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A importância da disponibilidade de recursos para a segurança de abastecimento de energia

Num contexto de transição energética, em que a discussão está centrada na redução das emissões e, consequentemente, na aposta em energias renováveis, a segurança de abastecimento e a importância da disponibilidade de recursos primários, é temática parcamente elencada num contexto de discussão pública, diminuindo, por vezes, sua importância.

A segurança de abastecimento de energia assenta, de uma forma genérica, em três grandes pilares: a dependência de importações, a diversificação das fontes de energia primária e a capacidade de armazenamento. Um adequado planeamento promove a existência de uma elevada resiliência, salvaguardando situações como as catástrofes naturais, choques económicos ou disrupção das cadeias de abastecimento, à escala global.

De forma a melhor entender os impactos que a transição energética poderá causar na segurança de abastecimento, é importante anteciparmos algumas tendências que estão a emergir na sociedade e o modo como estão a moldar o consumo de energia.

Os progressos observados na eletrificação da mobilidade urbana é um ponto de elevada importância, que terá como consequência a migração de parte do consumo de energia primária tradicionalmente de origem fóssil, para energia elétrica. Esta modificação de paradigma terá um duplo benefício, tanto na redução das importações de combustíveis fósseis, como na redução da intensidade energética global do país, derivada da eficiência superior destas soluções de mobilidade.

Não menos relevante é a tendência dos grandes consumidores de energia, nomeadamente a indústria e as grandes superfícies de serviços, de procurarem soluções cada vez mais eficientes, sustentáveis e económicas, que tornem a sua atividade o mais neutra possível do ponto de vista de impacto ambiental e social. Neste capítulo a tendência de introdução do hidrogénio azul ou verde (totalmente produzido através de fontes renováveis) nas redes de abastecimento de gás, soluções de melhoria de eficiência energética dos processos produtivos e a instalação de centrais de autoconsumo, serão preponderantes.

Por fim, no setor da aviação, dos transportes rodoviários de mercadorias (médio/longo curso) e do transporte marítimo, também se sentirá o impacto da transição energética, sendo que as soluções técnicas num futuro próximo deverão passar pela diversificação da matriz energética, com a utilização de biocombustíveis, de gás natural e dos e-fuels (combustíveis sintéticos produzidos através de H2 e CO2). Apesar de ser incerta a solução que reúna consenso na indústria, é esperado que o hidrogénio desempenhe um papel crucial na descarbonização da economia.

A combinação das tendências anteriormente elencadas, terão fortes impactos na dependência energética externa de Portugal, bem como na diversidade de fontes de energia e, consequentemente, na reconfiguração dos mecanismos de segurança de abastecimento de energia primária, que, historicamente, estão associados à da importação e armazenamento de combustíveis fósseis. O sistema elétrico não é uma exceção, apesar do já previsto faseout das centrais a carvão e do peso crescente das energias renováveis na produção de energia elétrica.

O sistema elétrico afigura-se como central, pois as tendências acima descritas, irão aumentar a sua dependência, bem como colocar à prova a sua resiliência e capacidade de fornecer a energia utilizada no consumo final ou para produção dos combustíveis do futuro. De salientar que a crescente introdução de energias renováveis varáveis no sistema elétrico e não sendo a energia elétrica passível de ser armazenada a grande escala, tornará necessário um reforço com tecnologias que permitam o armazenamento a longo prazo, em larga escala e de uma forma eficiente.

Atualmente o armazenamento de grande escala da energia excedentária no sistema elétrico é garantido essencialmente através dos aproveitamentos hidroelétricos com capacidade de bombagem. No entanto, novas tecnologias estão a emergir e a tornar-se economicamente viáveis, como é o caso das baterias ou do armazenamento térmico, mas também a produção de e-fuels ou de hidrogénio.

O pilar do armazenamento será, portanto, aquele no qual existirão os desafios mais complexos e onde a complementaridade entre as várias tecnologias já consolidadas e emergentes irá, de forma integrada, garantir a disponibilidade de recursos quando sejam necessários.

Estes desafios representam também uma oportunidade para as empresas energéticas poderem tirar partido de know-how específico, de forma a encontrarem as soluções mais eficientes do ponto de vista técnico-económico, adaptando as suas soluções de base para o futuro, garantindo assim os níveis de segurança de abastecimento necessários para o país.

Miguel Teixeira Miguel, Engenharia e Otimização de Ativos Hídricos, EDP Produção | Future Energy Leaders Portugal

Nota. Com esta nova rubrica de artigos de opinião, a Apetro pretende envolver os especialistas, a academia, os opinion leaders e os profissionais do setor na divulgação de temas atuais e de relevância para a indústria. Caso tenha interesse em partilhar o seu artigo de opinião por favor, entre em contacto connosco através de apetro@apetro.pt.

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